PRESSENTIMENTO


(APESAR DE PROMETER MANTER UMA SÓ POSTAGEM, RESOLVI FAZER OUTRA, COMO REFORÇO DE IDEIAS)

Sinto um terrível pressentimento.

É que a chamada "religião espírita" que se pratica no Brasil, oficialmente chamada de Espiritismo, é muito mais perigosa do que as seitas evangélicas "pentecostais", que estão gerando seguidores reacionários, como se observa entre os bolsonaristas.

Sabemos dessas religiões: Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Assembleia de Deus, Igreja Mundial do Poder de Deus, Igreja Batista da Lagoinha e tantas outras, engajadas com causas estranhas como a defesa do rearmamento da população e a difusão do ódio sociopata, direcionado sobretudo para a centro-direita e as esquerdas em geral.

São religiões que se alimentam dos "dízimos" de seus fiéis e na produção de eventos reacionários, como os do golpe político de 2016 e a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro, além de se comprometerem com a difusão de fake news e de pregação de visões deturpadas da realidade, denominadas "terraplanistas" pela semelhança com a ideia medieval de que a Terra era plana.

Não se nega o caráter perigoso e ameaçador dessas religiões, de ideólogos tresloucados, que "em nome de Cristo" pregam a vingança, o retrocesso social e a restrição da preservação de direitos humanos apenas a uma minoria elitista da população, de gente em maioria branca e de negros, índios e mestiços que, ingenuamente, pegam carona nessas causas obscurantistas.

Realmente, essas religiões são muito perigosas, e até extremamente perigosas no conjunto de sua obra, mas o que eu pressinto é que existe uma religião que é ainda mais perigosa e ameaçadora, que vende uma imagem de algo "sempre positivo e agradável": o Espiritismo brasileiro.

Divorciado das ideias originais de Allan Kardec, apesar de toda a bajulação em torno de seu nome, o Espiritismo brasileiro é a religião da falsidade. Eu fui adepto desta religião durante 28 anos e já prestei admiração apaixonada a seus ícones, sejam os tais "médiuns", vários de seus palestrantes e os supostos mensageiros espirituais, como Emmanuel e Joana de Angelis.

Mas como eu vi que essa adoração não me adiantava, e em minha vida eu só obtinha serpentes em vez de pão, larguei essa religião em 2012, tendo que enfrentar até discussão com meu pai e minha saudosa mãe, porque era preferível eu continuar nessa crença e ficar dando murro em ponta de faca do que buscar uma salvação fora da religião.

O Espiritismo brasileiro se vale de literatura fake, e é constrangedor que "psicografias" sejam feitas, impunemente, sem que a Ciência Espírita fosse considerada. Há um dado, digno de tragicomédia surrealista, que faz da psicografia uma atividade ao mesmo tempo impune e estranhamente constante no Brasil.

Enquanto as pesquisas sérias em torno da paranormalidade são escassas e comprometidas com a falta de recursos financeiros, a atividade "psicográfica" se multiplicou de uma maneira estranha, mesmo para um contexto de mediunidade incipiente.

O número de "médiuns" é enorme, e cada um deles, a partir do lamentável exemplo de Chico Xavier - cujas denúncias de diversas práticas negativas se multiplicam na Internet, inclusive o fato de que ele foi um colaborador da ditadura militar - , se julga "dono dos mortos".

As "psicografias" não passam de merchandising religioso de muito mau gosto, pouco variando do padrão dramatúrgico da farsante obra Nosso Lar. Usa-se o nome do morto ao bel prazer, em obras que fogem de aspectos pessoais do referido falecido, e a libertinagem "mediúnica" é estimulada quando se usa um nome famoso para uma suposta mensagem "espiritualista", para fins comerciais e sensacionalistas.

Enquanto não se estuda, devidamente, a obra de Allan Kardec, apreciada apenas de forma tendenciosa para ser interpretada de maneira distorcida, os "espíritas" no Brasil usam a "caridade" como carteirada para que todos passem pano nos seus piores erros.

Só que é uma "caridade" fajuta, dentro dos padrões do mero Assistencialismo, semelhantes ao que apresentadores de TV como Luciano Huck fazem visando a promoção pessoal. Os "espíritas" renegam essa promoção no discurso, mas eles são tão falsos que não dá para confiar numa única vírgula que esses supostos espiritualistas dizem, porque as palavras podem mentir, mesmo que belas sejam.

Além disso, os "espíritas" também não medem escrúpulos a negar a ajuda ao próximo, porque em vários momentos eles defendem que as pessoas aceitem o sofrimento em silêncio, fiquem felizes com a própria desgraça e apenas orem a Deus e se sacrifiquem acima dos próprios limites para vencer as dificuldades. É como se pedisse para um tetraplégico correr, com suas próprias pernas, para atingir a linha de chegada.

Seria preciso alongar demais o texto para enumerar a hipocrisia do Espiritismo brasileiro, cujos pregadores são capazes de expressar um moralismo bastante severo e punitivo num dia, de maneira taxativa e certeira, e, no dia seguinte, desmentir o que eles mesmos disseram, transformando o óbvio numa falsa metáfora.

O que posso dizer é que sinto o pressentimento de algo perigoso que o Espiritismo brasileiro significará a médio prazo. Religião que agora vende uma imagem de "pacifista", pregando uma suposta "união de divergentes", repetindo o modus operandi do Movimento Estamos Juntos ainda que restritos ao chamado "espiritismo de esquerda", propagados por pessoas indignas de qualquer confiabilidade, como o festivo pregador Franklin Félix.

Não acredito na "fraternidade da raposa com as galinhas" e sei que não dá para promover uma paz mantendo o oprimido na sua desgraça, enquanto o opressor é perdoado e até consentido em seus abusos. E o paralelo das ambições do Estamos Juntos, de empresas como a Ambev e o Itaú e de pessoas como Abílio Diniz, Jorge Paulo Lemann e Luciano Huck, com as ambições "fraternais" do "movimento espírita", torna-se um terrível sinal de alerta.

Aprendi que, quando há um sentimento de pressentimento de um perigo iminente, seria preciso um passo para trás em qualquer iniciativa. Acabei de ouvir um vídeo de Régis Tadeu, estudioso de música, sobre os bastidores do trágico acidente aéreo com integrantes da banda Lynyrd Skynyrd, em 1977, com vários mortos e alguns sobreviventes. O acidente ocorreu sem que fossem ouvidas as advertências e os pressentimentos de uma tragédia aérea, trazidos por várias pessoas.

Hoje o que há é um medo constante, um pavor de que se divulgue o lado sombrio do Espiritismo brasileiro. As pessoas apenas se calam, quando há publicação, na Internet, de textos diversos apontando seus aspectos negativos. Mas, se esses textos deixam de ser produzidos, o Espiritismo brasileiro, como uma barata que vê uma cozinha vazia, volta à tona e passa a se vender como uma suposta "doutrina da paz e da fraternidade".

O problema é que o Espiritismo brasileiro, em ideias, está mais próximo do Catolicismo medieval - eu mesmo apelido o "nosso" Espiritismo de "Catolicismo medieval com botox" - , colocando a Teologia do Sofrimento acima até mesmo dos ensinamentos originais de Kardec. E isso com tantas e tantas falsidades desmentindo isso e desmentindo aquilo, através de um malabarismo linguístico e ideológico para dissimular qualquer coisa.

Vejo um grande perigo à frente. O Espiritismo brasileiro já sinalizou que seu moralismo é punitivista. Culpabiliza a vítima, atribui holocaustos a supostos "pagamentos morais", pede para o sofredor aceitar sua desgraça calado, ou para sofrer ainda mais para superar o sofrimento inicial. Além do mais, compartilha causas como a radical reprovação do aborto, até mesmo em caso de estupro e risco à saúde, as mesmas dos evangélicos bolsonaristas.

A semelhança do lema bolsonarista "Brasil, acima de tudo, Deus, acima de todos" com o de Chico Xavier, "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", é outro alerta importante, com base também na trajetória arrivista de ambos, falsos antônimos - um supostamente simboliza o "amor", enquanto outro é superestimado pela imagem de "ódio" - e igualmente hipócritas e reacionários.

Devemos tomar cuidado. As forças progressistas apenas se calam quando são informadas das denúncias contra o "movimento espírita" e seus relativos. Fica um clima estranho de omissão, do tipo "vocês pensem como quiserem", sem que as forças progressistas acolhem tais denúncias e as investiguem ou divulguem.

E é aí que está o perigo, que pode cobrar seu preço caro daqui a alguns anos. E ver que isso pode trazer uma tragédia pior do que a do bolsonarismo é terrível, ainda mais sob o mascaramento do "bombardeio de amor" (love bombing), perigosa armadilha psicológica do qual o Espiritismo brasileiro se serve para seduzir as massas e até mesmo parte das pessoas aparentemente esclarecidas e intelectualizadas.

Não podemos nos iludir com o aparato de belas palavras e belos apelos visuais e supostas práticas positivas. E é surpreendente que nossas esquerdas rejeitem Luciano Huck, mas aceitam compartilhar com tudo o que ele acredita, incluindo o "espiritismo à brasileira" que já recebeu comentário positivo do apresentador (que, todavia, não segue essa religião), que faz uma "caridade" parecida nos seus quadros do Caldeirão do Huck.

O problema é com o "dia seguinte". "Conheces os segredos de sua alma?", advertiu a obra kardeciana O Livro dos Médiuns, com uma antecedência de mais 150 anos, prenunciando os "inimigos internos" que, praticamente, viraram os donos do Espiritismo que é feito no Brasil.

Será que eles cumprirão com a promessa de acolher crenças divergentes com o "carinho de um irmão de sangue"? Será que eles cumprirão a promessa de promover o progresso humano e a paz entre os povos? A natureza humana é sutil e o discurso lembra muito o que prometeu, no seu tempo, o imperador Constantino, quando fundou o Catolicismo medieval que, depois, se revelou sanguinário e repressor.

Os evangélicos "pentecostais" também prometiam o mesmo nos anos 1990, apenas duas décadas antes de revelarem seu apetite desumano com o bolsonarismo. Não há garantias de que o Espiritismo brasileiro, hoje com imagem de "bonzinho", venha a se tornar sempre bondoso e pacifista no futuro, até porque se trata, na prática, de um Catolicismo medieval com botox e que, com uma tecnologia ainda mais sofisticada, pode ser ainda mais cruel do que há mil anos atrás.

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