VERGONHA
Tenho de escrever novamente. De vez em quando, na medida em que eu precisar escrever alguma coisa, escreverei. A inspiração vem da cantora Duffy, que viveu a trágica experiência de ter sido sequestrada, estuprada, usada para tráfico humano, e até ameaçada de morte, e, por pouco, ela escapou de ter morrido.
Minha experiência é bem diferente. Foi aderir a uma religião confusa e hipócrita, que me trouxe más energias e me fez enfrentar adversidades fora do meu controle e de minha vontade, me impedindo até mesmo de me evoluir como espírito, apesar de todo o blablablá de "caridade", "bondade" etc.
Mesmo assim, isso também mostra a sua gravidade. E foi por influência de familiares iludidos com essa religião tosca, o Espiritismo brasileiro, que em nada tem a ver com o Espiritismo francês original. É uma religião cujo nível de hipocrisia chega até mesmo a superar a das seitas evangélicas como Igreja Universal do Reino de Deus e outras.
Para piorar as coisas, registra o Novo Testamento que o apóstolo Judas Iscariotes traiu Jesus Cristo, denunciando-o às autoridades do Império Romano. A traição teve consequências trágicas, a famosa crucifixão de Jesus, sem, todavia, o famoso julgamento que é tido como o "ponto máximo" das encenações da Paixão de Cristo (a condenação se deu de imediato, segundo historiadores).
No entanto, os chamados "espíritas" no Brasil traem Allan Kardec sem descansar um milésimo de segundo. Fazem um "Espiritismo" diferente do original, alegando que é para "adaptar-se às tradições da religiosidade popular", usada para justificar uma criminosa, cafajeste e abusiva catolicização que serve mais para repaginar a Igreja Católica aos moldes medievais, que os próprios católicos já descartaram.
Infelizmente, os brasileiros passam pano em determinada espécie de hipócritas que adotam um discurso "positivo" e vendem uma falsa "novidade". Os funqueiros viraram unanimidade por conta de seu oportunismo. Na mídia roqueira, uma emissora de rádio vergonhosamente canastrona, a Rádio Cidade (RJ), virou "vaca sagrada" do nosso radialismo, praticamente "canonizada" por um monte de flaneleiros digitais que ficam passando pano em coisas que nem valem tanto a pena assim.
É essa sociedade, um "meio-termo" que oscila entre os que bajulam, fingidamente, Lula e Dilma Rousseff em troca de uma boa impressão na sociedade, e os que, ignorando conselhos, foi votar em Jair Bolsonaro. São dois lados de uma mesma moeda da hipocrisia de um Brasil do uniforme da CBF e do "coxinhês" que fala a ridícula gíria "balada" e substitui palavras como "jogos", "rapazes" e "bicicletas" pelos termos em inglês games, boys e bikes.
O QUE FEZ A MÍDIA CORPORATIVA, MANIPULANDO TANTA GENTE
A grande vergonha que relato é como foi crescer essa religião estúpida chamada Espiritismo, uma das que cresceram durante a ditadura militar, que financiou "espíritas" e "pentecostais" para tentar enfraquecer a influência do Catolicismo, que estava fazendo oposição à opressão ditatorial.
Seu maior expoente é um sujeito asqueroso e farsante chamado Chico Xavier, que, cá para nós, já era uma figura estranha para mim desde os cinco anos de idade. Mas, induzido por meus familiares e toda uma propaganda que se fez e ainda se faz em torno dele - atualmente, diante das denúncias que explodem na Internet, há apenas um silêncio absoluto em torno dele, talvez esperando "novas lindas estórias" para reabilitar a imagem do hipócrita - , passei a admirá-lo durante anos.
Foi um grande erro, admirar uma pessoa dessas, promovida como se fosse uma "princesa da Disney" para o público adulto. E o pior das coisas é que esse tal de Chico Xavier é glorificado por uma suposta caridade fajuta, que a propaganda midiática supervalorizou e distorceu. Também, foi uma campanha feita unilateralmente na época da ditadura militar e, como ninguém veio para contradizer, essa propaganda enganosa pegou até hoje.
Daí a grande vergonha, a grante e preocupante vergonha, em ver como o mito de Chico Xavier cresceu de maneira vertiginosa, quando a verdade esconde um farsante que desfigurou os ensinamentos espíritas originais e os substituiu por um igrejismo católico-medieval, enquanto produzia falsas psicografias que, mesmo sem querer, uma simpatizante como a historiadora Ana Lorym Soares acabou revelando como um projeto fraudulento.
E a "caridade" do "médium"? O atendimento aos pobres era fajuto e a maior parte deles era para pedir para que aceitassem o sofrimento e a miséria. Daí que os pobres continuavam tristonhos e melancólicos, apesar das ilusões de receberem "prêmios no Céu". Falam tanto dos "terrenos celestiais" que Edir Macedo, Silas Malafaia e R. R. Soares prometem aos fiéis, mas o que não é o tal Nosso Lar senão a mesmíssima coisa?
Ah, quanta ilusão os brasileiros cultivaram e fizeram crescer, como erva daninha, a ponto do Chico Xavier virar uma "princesa da Disney" para adultos e idosos! Pior, ele tornou-se o Velocino de Ouro alertado pelo Velho Testamento, alvo de adoração cega e tão envergonhada que as pessoas se recusam a admitir fanatismo ou mesmo a devoção, dizendo, dissimulados, que apenas "admiram um homem humilde e bom, embora cheio de imperfeições".
As ideias do "bom médium" são constrangedoras. É tudo propaganda para a pessoa aceitar sua própria desgraça. E o mais grave é que, quando o "admirável pregador" fala em "bênçãos futuras", o que ele quer dizer é "mais sofrimento": trabalho servil, adversidades extremas, tragédias surgidas do nada, encrencas que surgem e crescem sem controle, conflitos repentinos surgidos de debates inócuos e tantas desgraças diversas.
Tenho que alertar a todos para tomar muito cuidado. O Espiritismo brasileiro já deu seu recado subliminar quando o presidente Jair Bolsonaro lançou um tema parecido com o lema chiquista "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", o "Brasil, acima de tudo, Deus, acima de todos", confirmando que Jair e Chico não passam de dois lados da mesma moeda, e vemos o "mito", com indisfarçável satisfação, segurando o livro do seu verdadeiro mestre. Não é montagem!
Jair e Chico se uniam até no apreço do perverso coronel Brilhante Ustra, porque o "bom médium" pedia para orarmos em favor dos militares, que estavam "construindo um reino de amor". O "homem bom" apoiava o AI-5, que dava sinal verde às piores torturas, porque "combatia o caos comunista".
É lamentável ver que pessoas que hoje se dizem comunistas e de esquerda manifestem apreço ao "médium" que mais apoiou a ditadura militar a ponto de ser premiado, como já se informa na Internet, pela Escola Superior de Guerra, que, naquele tempo de radicalismo da repressão militar, nunca perderia tempo investindo em cerimônias de premiação para quem não fosse colaborador da ditadura militar.
As pessoas deveriam, portanto, ler um pouco mais de História do Brasil e garimpar, com senso crítico, a nossa memória histórica, para que assim não se iludissem com heróis do passado remoto e do passado recente que compactuassem com a tirania e com a corrupção, desconfiando de narrativas dóceis e alegres que lembram mais contos de fadas.
Me livrei de ser um espírita à maneira brasileira e hoje não tenho mais religião. Respeito e continuo admirando Allan Kardec, mas não mais sigo o Espiritismo como religião, nem mesmo quando há a promessa de "respeitar as bases kardecianas" (o que não é o caso do Brasil).
No entanto, me sinto no compromisso de alertar para essa Má Nova, que é o Espiritismo feito no Brasil, que não passa de um projeto maquiavélico de recuperar o Catolicismo medieval, agora sob nova embalagem e muito botox, chegando a enganar até mesmo as esquerdas e os ateus, que insolitamente nem chegam perto dos campos de ação dessa religião.
Essa Má Nova pode chocar muita gente e fazer muitos brasileiros taparem os ouvidos e ficarem de olhos fechados, enquanto escrevem e dizem impropérios para defender uma ilusão religiosa que lhes promete, falsamente, "racionalidade" e "espiritualismo".
Mas quem imaginou, nos anos 90, que os "evangélicos pentecostais" não iriam revelar bolsomínions odiosos, que variavam de mentirosos contumazes até homicidas não só "arrependidos", mas também praticantes? Hoje o Espiritismo brasileiro se anuncia como um "terreno de humanismo errante, porém confiável", mas nunca se sabe o que se esperará de tão doces palavras.
Daí o perigo. Constantino criou o Catolicismo medieval promovendo "paz e união entre os povos", como uma alternativa unificadora ao esfacelante Império Romano. Hoje, com o Espiritismo brasileiro anunciando a "Pátria do Evangelho", numa suspeitíssima combinação entre Estado e Religião, o perigo é ver o Brasil se tornando, em breve, uma tirania sanguinária, e não é por ser o nosso país que ficaremos indiferentes a essa ameaça.
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